Consciência

A luta deve continuar

Aumento no número de pretos e pardos nas Instituições de Ensino Superior (IES) é positivo, mas busca por direitos deve ser mantida

Carlos Queiroz -

Carlos Queiroz 52259Semana com várias atividades celebra o 20 de Novembro (Foto: Carlos Queiroz)

Ainda há muito a ser conquistado. Esse é o pensamento de parte dos servidores e estudantes de Instituições de Ensino Superior públicas em Pelotas sobre a afirmação de que o número de estudantes pretos e pardos, nesses locais, ultrapassou o número de brancos, alcançando 50,3% em 2018. Os dados constam no informativo Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no último dia 13.

Entre as razões apontadas pelo IBGE, deve ser considerado o desenvolvimento de políticas públicas a partir dos anos 2000, como a política de cotas raciais e o programa de apoio a planos de reestruturação e expansão das universidades federais (Reuni). Na UFPel, a proporção de estudantes negros matriculados em graduações presenciais aumentou. Em 2015 representavam 10,19% do número total de alunos, que era 14.953. Em 2019, 19,75% dos alunos são pretos ou pardos, 3.030 dos 15.341 matriculados.

A estudante do curso de Jornalismo Marcela Lima afirma que o aumento deve ser visto com cuidado, pois pode não refletir o que é visto nas instituições de ensino. Segundo ela, é possível perceber que há uma trajetória de melhora no acesso ao ensino, devido, também, ao acesso dessas pessoas ao Ensino Médio, mas é preciso manter atenção para que os avanços conquistados até aqui não sejam tratados como suficientes. "É uma conquista de anos, de luta diária." Ela lembra, também, a ocorrência de fraudes em sistemas de cotas, ainda recorrente, o que pode ter influência nos números. "Ainda há poucos negros dentro das universidades", avalia.

A posição também é seguida por Maitê Lima, estudante de Ciências Sociais da UFPel. "Nós sabemos bem onde que aparecemos como maioria e, com certeza, não é dentro deste espaço", afirma. Segundo ela, o número não reflete a realidade dentro do ambiente acadêmico, e o número de fraudes cometidas por pessoas que tentam utilizar irregularmente o sistema de cotas sociais pode influenciar nos números. Para Maitê, a influência do sistema contribuiu para o aumento do número de estudantes pretos ou pardos nas salas de aula, mas o movimento ainda é abaixo do necessário. Além disso, lembra que meios de permanência destes estudantes também devem ser desenvolvidos, para evitar que haja desistências durante a trajetória acadêmica. "Não adianta a gente comemorar que entra na universidade, se no decorrer do curso a gente não pode permanecer".

Uma dessas iniciativas está presente no Campus Pelotas do Instituto Federal Sul-rio-grandense, por meio do Núcleo de Estudos e Pesquisas Afro-brasileiras e Indígenas (Neabi). "Nosso objetivo é valorizar a cultura negra dentro do Campus", conta a coordenadora Laís Amélia. A proposta é propor soluções e pensar estratégias para que a questão racial seja tratada na instituição, nos níveis da graduação, da pós-graduação e do ensino técnico. Para ela, um dos desafios é mostrar que os espaços das instituições públicas são de todos. "O aluno da periferia não se reconhece neste espaço", afirma. Com isso, o compromisso do Neabi seria publicitar a educação pública, de forma a demonstrar que todos podem ter acesso.

No local, 602 dos 1.692 matriculados nos 12 cursos superiores, entre bacharelados, licenciaturas e de tecnologia, decidiram declarar a sua cor. Destes, 482 são brancos, representando 80,07%, 57 são pardos, com 9,47%, e 59 são pretos, com 9,80%. Em 2018, eram 1.629 matriculados, sendo que 73,30% não declararam a raça. Do restante, 345 são declarados brancos (21,18%), 47 pretos ( 2,89%) e 42 pardos (2,58%). Os dados são da plataforma Nilo Peçanha, da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec) do Ministério da Educação

No vestibular de inverno deste ano, o Campus passou a contar com uma Comissão de Heteroidentificação, que atua na validação de sujeitos que se autodeclaram possuir direito ao ingresso na instituição por cotas raciais. Karina Ferreira, professora substituta de Filosofia do Campus e estudante cotista do curso de Direito da UFPel, lembra que a ação busca, justamente, diminuir o número de fraudes neste sistema, que anteriormente era feito por autodeclaração do candidato. Para ela, o aumento no número de estudantes na universidade possui grande significado, mas deve ser visto com cautela, pois ainda há muito a ser conquistado. "Precisamos preservar a nossa voz, para que os direitos sejam mantidos", afirma.

TABELA 3 a

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